Não basta ter aulas de inglês para ser uma escola bilíngue: o que educação bilíngue não é

Há 36 anos, quando começou no Brasil a primeira escola bilíngue, as bases de sua fundação vinham de experiências bem-sucedidas de escolarização de crianças EM duas línguas em países do hemisfério norte. Reconhecer a escola como um ambiente onde os alunos estariam cercados e imersos em duas línguas, que seriam usadas para todos os tipos de atividades escolares e não apenas em aulas de língua, foi um princípio fundamental do sucesso dessas escolas, que se multiplicaram primeiro em São Paulo, seguidas pelo Rio de Janeiro e estendendo-se gradualmente para outros estados.

Naquele tempo muitos eram céticos em relação a possibilidade de uma boa educação em escolas bilíngues. Havia poucas pesquisas, poucas metodologias disponíveis, mas a maior dificuldade era conseguir professores com a formação necessária (Pedagogia para ensinar na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I e Licenciatura para ensinar no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio) e o domínio de língua necessário para ser um bom modelo aos alunos.

Mais de três décadas depois o cenário é bem diferente: mais de uma centena de escolas bilíngues se espalham por todas as regiōes do Brasil. Às escolas internacionais já existentes desde o início do século XX, formadas por comunidades imigrantes, somam-se outras, que atendem em sua maioria alunos brasileiros. E escolas regulares, monolíngues, começam a implantar programas bilíngues opcionais para uma parte de seus alunos.

Mas surge também a especulação, pois com a mudança de mentalidade sobre a educação bilíngue, valorizando-a, e o reconhecimento dos benefícios do bilinguismo, muitos pais começam a buscar esse tipo de educação. O acirramento da concorrência entre as escolas particulares as leva a buscar ‘diferenciais’ para se destacar no ‘mercado’, e franquias rapidamente se formam para atender essa demanda.

Hoje há uma grande quantidade de pseudo-escolas bilíngues que apenas introduziram ou aumentaram a carga horária de inglês. Uma escolinha de bairro na zona sul de São Paulo anuncia em sua fachada um ‘horário bilíngue’, e em visita à escola descobre-se que foi feita uma parceria com uma escola de idiomas que envia uma professora para dar duas aulas semanais na educação infantil. Outra escola simplesmente copiou deste blog um artigo e apresenta-o em seu site como sua proposta pedagógica, obviamente sem dar créditos, em uma demonstração de desonestidade que faz questionar a capacidade da equipe pedagógica e sua ética.

Há anos este blog vem buscando informar pais e professores sobre educação bilíngue com seriedade, engajado em contribuir com a qualidade da educação. Por isso é frustrante perceber que o bilinguismo tem se tornado um mero ‘produto’ a melhorar os rendimentos de algumas escolas.

Para alertar e orientar leitores interessados destaco o que educação bilíngue não é: 

– Não é apenas recreação em inglês

– Não é aumentar as aulas de inglês no horário escolar

– Não é parceria com escolas de idiomas

– Não é feita sem professores formados em pedagogia ou licenciatura e proficientes em segunda língua

– Não é coordenada por profissionais sem experiência na área

– Não é possível na mesma sala de aula tradicional, com carteiras enfileiradas e professor na frente

– Não trata a língua apenas como língua

– Não tem qualidade sem um currículo estruturado

– Não tem como não ampliar seu horário de aulas em pelo menos duas ou três horas diárias, oferecendo um horário semi-integral

– Não pode durar apenas alguns anos, sem estender-se por todos os níveis de escolarização

Escolas que fazem isso não têm conhecimento sobre educação bilíngue nem compromisso com qualidade, ética e respeito a pais e profissionais de educação.

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22 thoughts on “Não basta ter aulas de inglês para ser uma escola bilíngue: o que educação bilíngue não é

  1. Priscila Zétola Bez says:

    Que post maravilhoso! Que bom ler boas orientações sobre o ensino bilíngue, pois estou perplexa com a qualidade do ensino de idiomas oferecidas pelas escolas particulares que se dizem bilíngue .

  2. MARCIA PIRES says:

    Olá, boa tarde! Me chamo Márcia, e hoje faço pesquisa sobre metodologias tanto na escola MONO e BILINGUE, seu post foi muito bom para abrir mais ideias no meu tcc. Há alguma indicação de leituras sobre as metodologias existente que diferenciam as escolas?

  3. Renata says:

    Boa Tarde Selma, seu post é perfeito. Tenho experiência em bilinguismo, trabalhei 3 anos na Maple Bear nas séries Year 2, 3, 5 e atividades extracurriculares. Agora serei coordenadora em uma escola bilíngue que abriu no meu bairro, porém não tenho experiência em coordenação. Na Maple Bear são 3 matérias ministradas em Português e 3 em Inglês( Matemática, ciências e E.L.A), essas 4 horas em português exigidas pelo MEC consideram aula de música, educação física e outras atividades? Não é possível oferecer uma carga horária estendida agora, como você nos aconselha? Minha experiência é na Maple Bear e oferecem 50%/50% sem carga estendida.
    Abraços,
    Renata

  4. Luciano says:

    Bom Dia Selma, no que diz respeito a educação infantil, a LDB coloca a obrigatoriedade da carga horária 200 dias, ou 800 horas, e ministrado em português para o Ensino Fundamental. Porém, se omite quanto a Educação Infantil. Desta forma, entendo que na Educação Infantil, podemos ser uma Escola Bilingue, com carga horária de 200 dias ou 800 horas, e aplicar 50% de cada idioma, o português e o inglês. Correto ??

  5. Aurea Rita Arantes says:

    Olá Selma. Concordo com as Karen Faber e temos orgulho em dizer que, desde o inicio de nossa historia como escola bilingue (The Joy School) fomos em busca de mais informações e treinamento para oferecer o melhor. Tivemos a felicidade de ser orientadas por você e pela Antonieta Megale desde o inicio e ja há 8 anos nossa escola faz uso das práticas aqui listadas. Neste ano inscrevemos uma professora para o Curso de Literacy on line (como eu fiz há alguns anos) já com a certeza de muito aprendizado. Parabéns! Grande abraço.

  6. Jean says:

    Parabéns Selma Moura pelo Blog, acompanho pois tenho muito interesse em saber mais sobre o ensino Bilíngue para meus filhos.

    Fiquei apenas com uma dúvida:

    Esses parâmetros que você colocou, que são necessários para a escola poder de fato ser bilíngue, são baseados no que?

    Pelo que entendi, a legislação não define o que é e o que não é bilíngue, então onde eu consigo essas informações que você passou para mostrar na escola dos meus filhos?

    Lá eles tem aulas diárias de 30 minutos e a escola é denominada bilíngue, porém como comprovar que esse modelo é errado? Tem algum outra lei, site, livro, etc?

    Desde já, obrigado pelas informações

  7. Loren Cruz says:

    Esse semestre estou finalizando meu Trabalho de Conclusão de Curso referente as escolas bilíngues em minha cidade.
    A princípio o tema do trabalho era sobre as escolas bilingues do Brasil, afunilei apenas para Piracicaba/SP pois, encontrei uma lei estadual que fala sobre a porcentagem (minimo 25%) das aulas ministradas em inglês diferentemente da proposta pela LDB.
    Minha dúvida é a seguinte: A LDB realmente propõe uma porcentagem mínima para uma escola ser considerada bilingue? No artigo não consigo encontrar, mas vi em alguns lugares que dizem “49% em portugues e 51% na lingua estrageira”. Selma, voce poderia me ajudar quanto a isso?
    Obrigada.

  8. Gisele says:

    Bom dia Selma, ótimo artigo!
    Poderia me esclarecer alguns pontos que já foram mencionados por outras pessoas?
    Para se transformar uma escola em Bilingue, é necessária a autorização da Diretoria de Ensino?
    -Existem leis/regulamentação/fiscalização?
    -Existe uma carga horária mínima para se cumprir?

    Muito obrigada! Ótimo dia,

    • Selma Moura says:

      Olá Gisele,
      Obrigada.
      Tem um post específico aqui no blog sobre legislação e escolas bilíngues, mas resumindo:
      – Você precisará da mesma autorização que a Diretoria de Ensino confere a qualquer escola no território nacional, e terá que seguir as mesmas obrigações.
      – Não há legislação específica sobre as escolas bilíngues particulares, e a definição da carga horária deve ser feita do ponto de vista metodológico, como necessária ao sucesso da educação oferecida pela escola, não de obrigações legais. Como é importante oferecer tempo de exposição à segunda língua, as escolas que buscam essa qualidade acrescentam um horário complementar, no contraturno, geralmente de 3 ou mais horas diárias, para garantir esse contato, enquanto mantém a carga horária normal de escolas brasileiras, conforme exige a legislação.
      Espero ter ajudado.
      Abraço,

  9. Izabella Agra says:

    Boa tarde!
    Tenho muito interesse em colocar o ensino bilíngue em minha escola. Sou formada em pedagogia e tenho proficiência na língua inglesa. Preciso muito de ajuda pois tenho algumas dúvidas.
    -É necessária a autorização da Diretoria de Ensino?
    -Existem leis/regulamentação/fiscalização pra esse tipo de ensino?
    -O que preciso mudar na estrutura da minha escola?

    Vocês tem alguma manual sobre? Salvei o site de vocês nos favoritos e to sempre dando uma olhada. Pretendo implantar no 2°sem de 2017 ou em 2018.

    Estou no aguardo de uma resposta.

    Obrigada desde já.

    Izabella Agra.

    • Selma Moura says:

      Olá Izabella.
      Você precisará da mesma autorização da Diretoria de Ensino necessária a uma escola brasileira regular, pois não há legislação específica sobre educação bilíngue. Você deverá cumprir 200 dias letivos, pelo menos 4 horas diárias dedicadas ao currículo regular, brasileiro, e as demais exigências. Por isso as escolas sérias acrescentam um período complementar para dar conta das aulas na segunda língua.
      Não há um manual nem nada parecido, por isso seria necessário, para analisar seu caso específico, consultar pessoas da área, visitar escolas bilíngues já existentes, buscar formação específica, estudar sobre bilinguismo, educação bilíngue, metodologias, etc.
      Abraço,

  10. Carla says:

    Excelente!
    Conheço várias escolas que cometem pelo menos três dos erros citados no artigo. Eu mesma venho ‘brigando’ para que esses sejam consertados. É muito cansativo lutar contra isso tudo!

  11. Deise says:

    Bom Dia,

    Gostaria de saber se há algum órgão responsável pela fiscalização/currículo/ grade destas escolas?
    Pelo que entendi não caberia somente aos pais diferenciar as escolas sérias das oportunistas… Este assunto deveria ser de discussão pública, afinal são introduzidas no currículo escolar das crianças/jovens,,,, Acredito tratar-se de ter uma aprovação / licença do MEC ou de algum outro órgão…. Também acredito que o PROCON não poderia dar muito suporte para o consumidor, afinal como provar que a escola está sendo oportunista e desonesta?

    Aguardo retorno

  12. Rosana Furtado Ribeiro says:

    Selma,
    Boa tarde. Uma escola para ser bilíngue precisa trabalhar outras matérias do currículo regular, como geografia, história entre outras em Inglês? OU trabalhar robótica, drama, educação física, tecnologia, culinária entre outras matéria extras, pode ser considerada uma escola bilíngue?
    Obrigada
    Rosana

  13. Andreia Rocha says:

    Muito oportuno o seu post, tenho uma escola no Butantã e hoje várias escolas da região aumentaram a quantidade de aulas semanais ou fizeram convênios com escolas de idiomas e se dizem bilíngues, e sim, elas conseguem atrair muitos alunos, pois muitos pais não tem ideia do que é ser uma escola bilíngue!

  14. Ale Carol Santana says:

    Muito bom Selma!
    Gostaria de saber a sua opinião sobre um termo que tem feito parte da propaganda de muitas escolas aqui em Curitiba: “Projeto Bilíngue”.
    Esse termo me parece ser uma justificativa de que a escola inda não é bilíngue, mas está se estruturando. O que no fundo acaba inserindo essas escolas no que não é bilíngue.
    Obrigada.

  15. Alessandra Santana says:

    Muito bom Selma Moura!!!
    Gostaria de saber a sua opinião quanto a um termo que as escolas tem utilizado em sua propaganda, “Projeto Bilíngue”.
    Me parece que tentam justificar que estão se estruturando, mas ainda não implementaram o sistema bilíngue por completo. E acabam caindo no que não é bilíngue. Aqui em Curitiba é bem comum encontrar esse termo nas fachadas das escolas!
    Obrigada.

  16. teacherroberta says:

    Perfeito!
    É muito importante conscientizar os pais, para que saibam diferenciar as escolas sérias das oportunistas!
    O mais preocupante é ver escolas tradicionais, com anos no mercado, adicionando aulas de inglês no currículo e vendendo as pais “imersão bilíngue”, para justificar os altos valores de mensalidade.
    Sobre as franquias… Prefiro nem comentar!
    Muito obrigada pelo ótimo texto! Fico feliz em estar em uma escola verdadeiramente bilíngue!

  17. Karen Faber de Gaspe says:

    Parabéns Selma !! muito bem explicativo esse post ! Sou de um Colégio Bilingue em Limeira-SP e percebo que cada vez mais as escolas tentam enganar os pais com falsas propagandas ! começamos nossa Educação Bilingue em 2010 e investimos muito em formação para esse trabalho.

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