Como trabalhar com educação bilíngue: a carreira de professor

Desde 1980, quando a primeira escola particular bilíngue iniciou suas atividades em São Paulo, o número de escolas bilíngues no país não pára de crescer, e a tendência aponta para um crescimento ainda maior à medida em que a importância do conhecimento de línguas aumenta com a projeção internacional do país e a mudança – lenta e gradual – do que o “senso comum”  entende por bilinguismo: se antes era visto como um problema, vem sendo considerado mais e mais desejável nos últimos anos. Mais famílias procuram escolas bilíngues para seus filhos.

Já há mais de uma centena de escola (auto-denominadas) bilíngues no Brasil (veja lista aqui), e um dos principais desafios destas escolas é conseguir profissionais qualificados para seu corpo docente. À complexidade da tarefa de ensinar e formar os alunos somam-se conhecimentos e habilidades específicos ao trabalho com educação bilíngue, o que torna o/a professor/a para essa modalidade de ensino algo raro e competido no mercado de trabalho.

O profissional ideal para as escolas bilíngues tem três características:

1) Formação em educação

Para ser professor na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1o ao 5o ano, o que antigamente se chamava pré-primário até 4a série) é necessário ser pedagogo/a, pois o ensino é ministrado por professores polivalentes, ou seja, que dão aulas das diversas disciplinas. O curso de pedagogia dura cerca de 4 anos e contempla disciplinas específicas sobre didática, metodologia de ensino, história, filosofia e sociologia da educação, psicologia do desenvolvimento, entre muitas outras. Ele dá ao graduado uma visão ampla da educação e as ferramentas necessárias para iniciar sua atuação profissional.

A partir dos anos finais do Ensino Fundamental (6o ao 9o ano, ou as antigas 5a a 8a séries) até o Ensino Médio as disciplinas são ministradas por professores específicos, com licenciatura em Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Educação Física, Artes, etc. Para lecionar nestes segmentos é preciso, portanto, ter curso de licenciatura nas áreas de ensino.

Essas são as exigências legais que todas as escolas têm que cumprir, e a exigência dos diplomas dos professores nestas áreas é uma exigência para o funcionamento das escolas, supervisionadas pelas delegacias de ensino. Essa medida é mesmo essencial, pois pretende garantir que apenas profissionais preparados possam ensinar nas escolas.

2) Proficiência nas línguas da escola

É evidente que o domínio das línguas da escola é condição para a contratação nas escolas bilíngues. O ideal – embora nem sempre seja possível – é que todos os professores tenham conhecimento das duas (ou mais) línguas da escola, mesmo que utilizem uma língua em suas aulas. Isso porque assim o professor consegue entender melhor as práticas bilíngues de seus alunos e intervir para ajudá-los a avançar. Mas como nem sempre é possível garantir que todos os professores sejam bilíngues, o que geralmente as escolas exigem é a proficiência na língua de instrução. Professores que ministram suas aulas em Português devem ter, obviamente, o domínio da língua, e os professores que o fazem na L2 (Inglês, Alemão, Italiano, etc) devem ter proficiência nesta língua.

Muitas escolas valorizam certificados de proficiência que comprovam este domínio. Alguns exemplos de certificados de proficiência em geral são o IELTS e o TOEFL. (Para saber mais sobre certificados de proficiência clique aqui). Ter um desses certificados pode ser um diferencial para a contratação.

3) Experiência em Educação

Nada substitui a experiência: conhecer bem o dia-a-dia da sala de aula e as funções inerentes ao trabalho do professor leva tempo. Por isso, o mais comum é que jovens profissionais iniciem como assistentes de professores mais experientes com quem aprendem gradualmente sobre o trabalho docente, dividindo responsabilidades e assumindo gradualmente mais tarefas, até o momento em que são capazes de planejar aulas, ministrar o ensino, avaliar o ensino e a aprendizagem, dialogar com as famílias, criar estratégias inovadoras e promover o aprendizado de todos os alunos.

Como a demanda por professores nas escolas bilíngues é maior do que a oferta, nem sempre as escolas encontram profissionais com experiência neste setor, e precisam formar internamente seus profissionais. Nestes casos geralmente são contratados profissionais com experiência em educação (não bilíngue) que recebem formação específica por parte da própria escola.

Você quer começar a trabalhar em escolas bilíngues? Veja o que fazer:

1) Investir em formação: Faça uma graduação em Pedagogia (para dar aulas a crianças de 0 a 10 anos), em Letras ou em outras licenciaturas (Matemática, Geografia, Educação Física, etc)

2) Estudar e aperfeiçoar constantemente seu conhecimento de línguas e considerar a possibilidade de obter um certificado de proficiência

3) Para ter experiência na área, começar como assistente ou mesmo como voluntária em escolas. Observar o que acontece, tomar notas, refletir, questionar a professora titular e a equipe e aprender sobre como acontece o ensino na escola.

4) Networking: estar em contato com o que acontece na área é essencial para saber em que direção a carreira caminha e para se aprimorar constantemente. Acompanhe cursos oferecidos, congressos e simpósios, livros e artigos sendo lançados, diálogos e trocas de experiência entre os profissionais da área (veja aqui). Assinar o blog vai permitir que você receba as postagens por e-mail. Você também pode querer participar da comunidade virtual sobre educação bilíngue aqui. Frequentemente as escolas usam este canal para buscar profissionais para seus quadros. Quem sabe é sua chance?

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13 thoughts on “Como trabalhar com educação bilíngue: a carreira de professor

  1. Larissa Nascimento says:

    Boa tarde Selma,tudo bem?
    Gostei muito do seu texto,mas fiquei com uma dúvida! Estou me formando em História e pretendo o ano que vem fazer pedagogia, me interessei muito pela educação bilíngue. No entanto,gostaria de saber se para exercer essa função é necessário estar formada em Letras.

    Aguardo a resposta

    Até logo

    Larissa Nascimento

  2. Queren Silva Lima says:

    Hello girls, amei este site. Sou formada em letras e estou cursando pedagogia, leciono a disciplina de língua inglesa em uma escola particular nos anos iniciais do ensino fundamental. Desejo continuar meus estudos no ensino de língua inglesa para crianças. Se algumas escola bilíngue estiver contratando meu email silvaqueren@yahoo.com.br.

  3. Brenda Rodrigues says:

    Olá Selma, gostei muito do seu texto,bilíngue, e gostaria da sua contribuição com referências para a construção do meu tcc, faço estágio em uma escola bilíngue de Brasília e gostaria da sua colaboração caso seja viável.
    tratarei justamente da formação de professores.

    Questão de Pesquisa: Como a formação pode influenciar na prática pedagógica do professor que atua em escola bilíngue de língua estrangeira?

    Objetivo Geral: Investigar como a formação pode influenciar na prática pedagógica do professor que atua em escola bilíngue de língua estrangeira de Brasília- DF.

  4. Maria says:

    Achei muito interessante o texto. No entanto, tenho dúvidas se um professor com habilitação profissional (designação em Portugal) para lecionar Francês e Inglês ao 3º Ciclo (7º ao 9º anos ) e Secundário (10º ao 12º anos) estará formalmente habilitado para lecionar em qualquer uma das Escolas Bilingues Brasileiras particulares ou públicas. Em caso afirmativo gostaria de obter informação sobre o que deverá o Professor fazer para se candidatar a possíveis vagas para o ensino do Francês e / ou Inglês a alunos com idades entre os 12 e os 17 anos.

  5. Rita Grillo says:

    Boa tarde Selma e meninas, tudo bem? Meu nome é Rita e eu estou querendo realizar meu sonho de virar professora bilíngue. Sou administradora e já a 5 anos dou aulas particulares de inglês para jovens e adultos, grupos e individual. Planejo esse ano iniciar uma faculdade para me especializar e dar aulas em escolas bilíngues. Porém tenho uma dúvida: eu faço pedagogia ou letras??? o que sugerem? thanks in advance! 🙂

  6. Patricia Nakad says:

    Ola Selma, sou porfessora de inglês e tenho pós em educação pela PUC. estou trabalhando em um projeto bilingue e gostaria de sugestões de leitura de como desenvolver um curso bilingue. Obrigada, Patricia escola LínguaViva.

  7. Melissa says:

    Prezada Selma,
    acompanho o seu blog com bastante frequência… sou sua fâ! Sei que este assunto já foi e é constantemente questionado… mas é que eu lí em algum lugar (a algum tempo atráz) que Escolas Americanas ou Internacionais tem uma legislação própria e por isto podem e contratam estrangeiros para trabalhar em suas instituições. Existe esta lei para escolas internacionais? e para escolas bilingues… existe alguma legislação expecífica? Tenho uma escola bilingue em Florianópolis e tenho muita dificuldade em achar professoras formadas em pedagogia E que tenha inglês fluente. Você poderia me orientar se é “ilegal” contratar uma professora de línguas (formada em letras) para lecionar na educação infantil?
    Grata por sua atenção.
    Atenciosamente,
    Melissa Farias

    • Karla says:

      Prezada Melissa,
      gostaria de saber se há alguma vaga disponível na sua escola para professora de educação infantil bilingue.
      Att,
      Karla Vieira

  8. Fernanda says:

    Me formei em Pedagogia há 2 anos e trabalho com educação infantil há 1 ano e meio. Estou fazendo um curso de inglês e pretendo procurar escolas bilíngues para trabalhar no próximo ano. Mas gostaria de mais informações como por exemplo, seria interessante uma pós em educação bilíngue? Onde posso encontrar essa linha de estudo? Obrigada pela atenção!

  9. Viviane Klen Alves says:

    Acabei de ler o texto e ele está muito bem escrito, parabéns! Aborda os principais tópicos nos quais os novos profissionais precisam enfocar para ingressar na carreira em escolas bilíngues.
    Obrigada!
    Um abraço,
    Viviane Klen Alves

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