O cursinho Anglo e a absurda exclusão dos alunos surdos

placasO que justifica a atitude excludente do cursinho Anglo? Será a busca pelo lucro, que transforma instituições que deveriam ser de ensino em meras máquinas de fazer dinheiro? Será a falta de ética e de compromisso com a legislação? Será pura e simples ignorância?

Há uma brecha na lei que permite que os cursinhos fiquem “em cima do muro”. São escolas ou não? Se são, precisam disponibilizar intérprete em Libras para alunos surdos. Se não são, precisam perder direitos legados a estabelecimentos de ensino. Mas muito mais que a questão legal, de serem “obrigados” ou não a ter um intérprete, há a questão ética, humana: submeter uma aluna, e sua mãe, a este calvário em busca do direito de entender às aulas (pelas quais já estão pagando!) é desumano.

Parabéns à mãe, Liliane Petris, e à aluna por não se calarem. Suas ações estão repercutindo, e podem transformar uma realidade injusta em algo melhor para outros alunos surdos. Espero. E por isso, divulgo a notícia e convido os leitores do EBB a assinarem a petição.

Cursinho nega intérprete para aluna surda matriculada no centro de SP

Marcelle Souza
Do UOL, em São Paulo

02/02/2013

Matriculada em um curso pré-vestibular do Anglo na unidade Tamandaré, região central de São Paulo, uma aluna surda de 18 anos não poderá assistir às aulas. O cursinho não disponibilizará intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) durante as aulas. Essa foi a informação que a mãe da aluna, Liliane Petris, 40, recebeu do cursinho dias depois de inscrever a jovem, que pretende prestar vestibular no fim deste ano.

Se a aluna quiser estudar, teria dito o diretor do cursinho, deverá transferir a matrícula para uma unidade a 20 km do local que ela escolheu. Isso porque apenas no prédio localizado na avenida João Dias (zona sul de SP) há um intérprete de Libras, apesar de não haver alunos surdos nessa unidade. (Para quem conhece São Paulo, e seu trânsito, é um absurdo sugerir uma coisa dessas!)

Além de ser distante, o curso que possui um profissional especializado só ocorre durante a tarde – a aluna se matriculou em aulas do período matutino–, que tem carga horária menor do que a escolhida.

“Já paguei a primeira mensalidade, minha filha tem o direito de escolher a carga horária, o período e onde quer estudar. Essa não pode ser uma decisão do Anglo”, diz Liliane. As aulas do cursinho pré-vestibular começam no início de março.

“Primeiro, disseram que não havia espaço no tablado para o professor e o intérprete. Depois fui informada de que só iriam colocar o profissional em sala quando fossem obrigados pelo Ministério Público”, completa. (Ou seja: o Anglo parece estar dificultando ao máximo o atendimento a esta aluna, na esperança que ela desista de seus direitos e o deixe em paz.)

Liliane fez a denúncia ao Ministério Público Federal nesta semana e pretende procurar também o Ministério Público Estadual.

Compromisso

Em 2008, o Anglo assinou um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com o Ministério Público Federal e o Estadual, em que se comprometia a colocar um intérprete de Libras nas aulas regulares do curso “express” oferecido na unidade João Dias a partir do ano seguinte. O TAC define uma multa diária de R$ 3 mil em caso de descumprimento. (É de se supor que a exigência do Ministério Público tenha se baseado em um episódio de exclusão de alunos surdos, ocorrido anteriormente. Não dá para entender como a exigência ficou sendo aplicada apenas a uma unidade, e não a toda a rede).

Liliane foi então informada de que, mesmo sem alunos surdos no prédio da zona sul, o intérprete não poderia ser deslocado para outro endereço, porque o termo assinado trata apenas das aulas na unidade João Dias. (Será que este intérprete existe mesmo? Como não há alunos surdos sob seu atendimento, o que faz?)

Dessa forma, a mãe diz que foi orientada a procurar o Ministério Público, fazer uma denúncia e esperar um novo TAC ser assinado – o que pode demorar mais de um ano.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação define que o aluno com algum tipo de deficiência deve receber serviços de apoio especializados em escolas públicas e privadas. O problema é que o texto aborda especificamente o ensino regular – que não inclui cursinhos pré-vestibulares.

A mãe diz que outra aluna, também com deficiência auditiva, teve a matrícula negada na unidade do centro, porque foi informada pelo cursinho de que só poderia estudar no prédio da avenida João Dias.

Diante do problema, Liliane não só fez a denúncia ao MP, como também criou um abaixo assinado virtual pedindo a presença de intérpretes de Libras em cursinhos (veja aqui a petição pública).

Resposta

Em nota assinada por Marcelo Mirabelli, diretor do Anglo Vestibulares, o cursinho disse que é “sensível às dificuldades dos portadores de necessidades especiais” e que oferece o curso pré-vestibular na unidade João Dias, “totalmente adaptada para todos estudantes, portadores de necessidades especiais ou não”. (A cara de pau é impressionante. Gostaria de saber o que Marcelo Mirabelli e o pessoal do Anglo entende por “sensível”.)

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Peço àqueles que leram e que apoiam o direito dos surdos à educação, e condenam a atitude do Anglo, que assinem a petição.

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9 thoughts on “O cursinho Anglo e a absurda exclusão dos alunos surdos

  1. Angelica Alves Ferreira says:

    Seria melhor que tivesse turmas de surdos ou cursinhos própios com boa localização, por que esses cursinhos eles visam lucro mesmo e pagar o salario de um professor pra um único aluno é invíavel com certeza, então temos que pensar como um todo e como as coisas realmente são, sou contra a atitude do cursinho direpente seria a hora de formar uma turma para pessoas com essa deficiencia ou um numero que também lhes fosse viável e não exclui los.

  2. Zilda Novais da silva says:

    Mãe, voce´ está de parábens,lute sempre pelos os direitos de sua filha no final ,terá vitórias

  3. Rafaela Teodoro de Souza e Silva Fonseca says:

    absurdo,eles tem que se adaptar para receber alunos com suas limitações seja elas quais forem!!!!

  4. diana says:

    sao pessoas egoistas nao conseguem enchergar seu futuro bem proximo,pois o dia do amanha so deus sabe,nao sabem amar a si mesmo como podera amar ao proximo..!!!

  5. Elaine says:

    simplesmente absurdo,lógico q um cursinho tem q dar todo suporte a pessoa q tem sua limitação, e precisa estudar.Então eles tem que se aperfeiçoar para receber estes alunos com certeza.

  6. MARIA SALETE MARIM says:

    É absurda a posição do Anglo em relação a estudante surda,se uma instituição de ensino adota uma postura de indiferença a necessidade dessa aluna,o que podemos esperar da sociedade? muitos nem tem conhecimento que existe a língua brasileira de sinais.é lamentável como como o ser humano se tornou desumano.

  7. diana says:

    muitos ser humanos, são incapaz de se colocar no lugar dos outros , e pensar que poderia ser eles precisando de uma pequena adaptação , para mostrar suas capacidade .E tão triste ver que com tanto desenvolvimento mental e profissional , ainda exista tantas limitações e preconceito .

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