Contra o uso de apostilas na Educação Infantil

Como educadora e como mãe sei o quanto é difícil para os pais dar uma boa educação aos filhos, tanto em casa quanto na escola. Muitos pais acreditam que uma boa escola – pública ou particular – deve dar muita matéria, muita lição, provas difíceis e ensinar as crianças a se esforçar para aprender. E acabam valorizando o uso de muitos materiais e de cadernos cheios de tarefas, achando que uma escola conteudista é uma escola forte. Sabe o que acontece com as crianças após alguns anos? Começam a odiar a escola e achar que aprender é chato, difícil e repetitivo, porque são obrigadas a memorizar uma série de coisas (como nós fomos) que não servem para nada, e que esquecerão assim que tirarem a nota que precisam na prova.

Se isso é uma crueldade com as crianças e adolescentes no Ensino Fundamental e Médio, deveria ser considerado um crime com crianças pequenas. Colocar os pequeninos sentados diante de apostilas que lhes pedem tarefas sem sentido como ligar objetos, fazer tracejados, colorir nos espaços, etc, é um desserviço a educação. E o pior é que isso cresce a cada dia, como vemos na matéria abaixo:

Uso de apostilas cresce em escolas do ensino infantil

Fonte de polêmica no ensino fundamental e médio, o uso de apostilas elaboradas por sistemas de ensino privados cresce também no ensino infantil, etapa voltada para crianças entre 4 e 5 anos. Pesquisa feita pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que, de 2008 para 2009, o número de municípios do Estado que adotam o modelo subiu de 24 para 32. Há dez anos, só 4 cidades tinham apostilas para essa faixa etária.

As apostilas também são utilizadas atualmente por muitas pré-escolas privadas, embora educadores se posicionem contra a prática nessa etapa da vida escolar. Até os 5 anos, a orientação do Ministério da Educação (MEC) é para que sejam priorizadas as brincadeiras, adiando a entrada do aluno em um ensino mais sistematizado e com maiores regras e cobranças.
A pesquisadora Theresa Adrião, autora do estudo e professora da Faculdade de Educação da Unicamp, afirma que o grupo de municípios que aderiu aos sistemas apostilados na pré-escola concentra cidades com até 200 mil habitantes.
“Está havendo um crescimento da adoção deste tipo de material para a educação infantil. As escolas privadas já usavam há alguns anos, mas as redes públicas começaram a entrar agora”, afirma Theresa Adrião. “No ensino apostilado, as aulas são padronizadas, assim como os temas e as atividades pedagógicas”, diz.
Um dos temores dos educadores é que, justamente na fase em que a criança precisa de estímulos diversos, com brincadeiras e atividades lúdicas, as aulas fiquem limitadas às atividades propostas nos cadernos, o que restringiria a criatividade e a experimentação dos pequenos. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Mas por que educadores, especialistas e pesquisadores se posicionam contra o uso de apostilas nesta fase? Vejamos algumas razões:

1) As propostas das apostilas não tem nada a ver com o que a criança precisa saber nesta fase

As apostilas limitam o espaço e as possibilidades de pensamento das crianças quando o que elas mais precisam é explorar, experimentar, perceber, comparar, analisar, associar, organizar – habilidades essenciais para toda sua vida. É como se as apostilas quisessem começar a construir a casa pelo telhado, ao invés de pelo alicerce. É óbvio que não dá certo e a casa cai. As crianças vão aprender muito mais se explorarem espaços, brinquedos, jogos, histórias e brincadeiras com colegas.

2) Muitos pais precisam ver para crer – e a apostila dá alguma materialidade ao que se faz na escola

Como coordenadora pedagógica convivi com muitos pais que se preocupavam com o que de fato as crianças estavam aprendendo na educação infantil quando não viam cadernos e pastas cheios de atividades. Quando as crianças chegavam em casa os pais perguntavam: “Filho, o que você aprendeu hoje na escola?”, e se desesperavam com a resposta de algumas crianças: “Nada, eu só brinquei”. Mas será que a criança pequena percebe mesmo o que aprendeu? Será que tem condições de refletir sobre seu processo de aprendizado e perceber seus avanços? É claro que não. Então, chegar em casa feliz e animado e dizer que brincou na escola é o melhor sinal de que está tudo indo bem.

Mas como os pais podem saber o que as crianças estão aprendendo na educação infantil? Ora, lendo os recados na agenda, os informes sobre os projetos desenvolvidos e participando das reuniões de pais. Dá trabalho, é claro. Mas vale muito a pena e, de quebra, podem ajudar a criança a aprender mais, visitando uma exposição, vendo um filme ou lendo um livro sobre o tema tratado na escola.

E você, pai, mãe ou educador, o que acha do uso de apostilas com os pequenos? Você usou apostilas na época da educação infantil? O que lembra de sua escola nesta idade? Conte pra gente nos comentários!

3) A maior parte dos exercícios propostos é inadequada

Se você analisar alguns trechos das apostilas propostas para esta fase e se perguntar “Qual é o objetivo desta atividade? O que se espera que a criança aprenda com isso?” verá que as propostas são mal-feitas. Atividades como “pinte a bola grande de vermelho” são, no mínimo, um desperdício de papel: para ensinar os tamanhos e as cores nada melhor do que brincar com bolas de verdade e criar jogos para organizá-las por cores, tamanhos, materiais de que são feitas, etc. Atividades de desenvolvimento de coordenação motora são substituídas com vantagem pela manipulação de objetos como areia, água, contas e fios, jogos de encaixe, etc. Ou seja, as atividades propostas não são a melhor maneira de ensinar o que as crianças precisam aprender.

E você, o que acha do uso de apostilas com os pequenos? Você se lembra de sua escola nesta época? Como foi sua experiência? Conte pra gente nos comentários!

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9 thoughts on “Contra o uso de apostilas na Educação Infantil

  1. Natali says:

    as apostilhas contribuim sim na educação graças ao conhecimento através dela já conseguir um bom emprego.
    Selma Moura obrigada pelo artigo

  2. Claudia says:

    É uma crueldade a Educação Infantil trabalhar com sistema apostolado!!Até quando assistiremos essa etapa ser sufocada com atividades que não levam à nada!Estou aposentada e sempre trabalhei com essa etapa escolar,porém nunca aceitei esse jeito de trabalhar: é chamar a criança de otaria.Estamos no século XXI e a escola não mudou!Graças à Deus que existe pessoas que pensam como eu. Valeu Selma .Abracos

  3. Andrelisa says:

    Concordo plenamente. A criança aprende muito mais brincando e interagindo com os amigos da turma e com os professores. É na troca diária b que se constrói o aprendizado. E sobre os questionamentos dos pais e responsáveis, basta ter um bom trabalho, argumentos e tentar trazer essa família para a escola que ela verá o conhecimento sendo transmitido

  4. Pingback: Dúvida de mãe: Educação Bilíngue e o processo de afabetização | Educação Bilíngue no Brasil

  5. Claudia says:

    Parabéns , Selma ! Graças a Deus ainda existem pessoas como você para “gritar ” o que estão fazendo com a Infância de nossas crianças ! A Educação Infantil é a base do desenvolvimento humano! E as apostilas tiram das crianças o encantamento de irem para a escola ,sufocando -as com muitas atividades e cobranças .Esquecendo que é a fase mais importante das brincadeiras , das histórias , do conhecimento de mundo .
    O que poderiamos fazer para acabar com essa “crueldade “?
    Abraços
    Claudia

  6. Helena Meyer says:

    Não gosto da ideia de apostilas em nenhum segmento, e na Educação Infantil então, acho ainda pior!!! Além das razões que você tão bem expôs, as apostilas ‘pasteurizam’ a educação, apresentando o conhecimento como um produto pronto a ser consumido; tiram a autonomia, embotam a criatividade e matam o desejo do professor de pesquisar; entopem o aluno de conteúdo (no caso dos maiores, do Ensino Fundamental e Médio), mas pouco se explora com profundidade, criticidade e reflexão; na Educação Infantil passam a ideia errônea de que só se aprende aquilo que está no papel – as experiências concretas que a criança vive não valem de nada… Isso sem falar no comércio extremamente lucrativo em que se transformaram. Na verdade, acho essa tendência extremamente preocupante, e mais um elemento na longa lista de problemas que enfrentamos na educação.

  7. designestudio72 says:

    Oi Selma, amei o texto. A escola precisa ganhar a confiança dos pais mostrando que sabe o que está fazendo. E se ela realmente souber, não precisará usar as apostilas como \”muletas\” para educar. Eu estudei em uma escola há quase 30 anos atrás que já tinha um pensamento muito legal, porque ela é a fonte do meu maior arquivo de lembranças boas da infância escolar… não esqueço do cheiro da massinha verde água, do tanque de areia, da alegria dos colegas quando a gente sentava para brincar, do gosto do gelo da chuva de granizo que tinha caido no chão e que a professora cuidadosamente tinha conseguido resgatar para alegria da garotada, entre outras coisas…. o gostar de cantar com aqueles instumentos da bandinha, as tarefas gostosas com tinta, giz…. Aprendi sim a escrever e ler nesta escola, mas aprendi pricipalmente a dividir, parar, olhar, cheirar, analisar, pesquisar, negociar, falar, cantar, viver….. e me emociono sempre que lembro do querido \”trenzinho da tia Yara\”.

    Adorei ter encontrado os teus lindos textos nestas andanças pela internet.

    Abraços,
    Telma

    • Selma Moura says:

      Obrigada por seu comentário. Mas repare que estou falando do uso de apostilas com crianças pequenininhas, de 3, 4 ou 5 anos. Muitas escolas “massacram” os pequenos com estas apostilas quando elas deveriam brincar, se movimentar, jogar e ser crianças como muitos de nós já fomos.
      Você se lembra dessa fase da sua vida? Conte pra gente se já estava na escola e como foi suas experiência.
      Abraço,
      Selma

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