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Chineses são 26% em escola do centroColégio com tradição em educar imigrantes tem programa especial para acolher alunos da China
Marcela Spinosa, marcela.spinosa@grupoestado.com.br O Colégio São Bento, no centro de São Paulo, retomou uma atividade praticada no início do século passado: educar imigrantes. Já passaram por lá alemães, russos, japoneses, italianos e, agora, chegou a vez dos chineses. Dos 400 alunos da unidade atualmente, 105 (26%) nasceram na República Popular da China ou são filhos de chineses. Como muitos têm dificuldade em falar português, eles podem usar material didático em mandarim e aulas de reforço. Os primeiros 15 alunos dessa safra se formam este mês no ensino fundamental. O trabalho dos monges beneditinos agradou tanto o governo chinês que o consulado entregou ontem ao colégio uma placa em homenagem ao trabalho. Na cerimônia, a dona de casa Huang Yu Hua, de 46 anos, acompanhava a reação das filhas Hei, de 11 anos, e Heida, de 9, ao cantarem o hino nacional brasileiro. “É a melhor escola para a comunidade porque, além dos nossos costumes, aprendemos sobre o Brasil”, disse Huang, que há 10 anos, deixou uma cidade vizinha à Hong Kong com o marido e veio para o Brasil. Diferenças culturais Entre as diferenças do ensino brasileiro e o chinês está, segundo dom João Evangelista Kovas, prior do mosteiro, a distância dos pais em relação às atividades realizadas pelos filhos nas escolas. “Lá (China) os filhos ficam na escola e os pais não sabem o que acontece. Aqui não. Tivemos de fazer um trabalho para trazer os pais para o colégio, para eles participarem das reuniões e acompanharem os filhos”.Segundo ele, além do ensino, há outra razão para os chineses procurarem o São Bento: “Muitos pais chegam aqui sem seguir uma religião, mas querem que os filhos sigam porque consideram isso importante.” A volta dos imigrantes ao São Bento começou em 2004, com a chegada de três chineses que não falavam nada em português. “A primeira coisa que fizemos foi tirar o dicionário deles”, conta dom João. Os jovens frequentavam as salas com outros brasileiros. “Os chineses receberam um guia com vocabulário e frases para se comunicarem em português.” Em seguida, o São Bento começou a trabalhar a metodologia pedagógica para inseri-los na cultura brasileira. O enunciado e o título das atividades eram escritos em português e em mandarim. A chegada, em 2007, do padre Lucas Xiao, da Missão Católica Chinesa no Brasil, aumentou o número de chineses na escola, porque ele chamava a comunidade para se integrar aos brasileiros. Para atender a demanda, o São Bento montou uma secretaria especial para a comunidade. Nela, há, além de cursos de música e tradição chinesa ministrados por 19 professores chineses, uma biblioteca com 500 títulos em mandarim e curso do idioma. Dos 90 alunos, dois são brasileiros. “Os pais querem que os filhos aprendam a língua porque acham que este é o idioma do futuro”, disse o padre. Em 2010, os chineses que chegarem ao São Bento farão um ano de curso de português antes de irem para a sala de aula. Ano que vem, será aberto ao público o curso de mandarim. “É fundamental porque o Brasil é muito distante da China e essa aproximação promove um intercâmbio cultural que será importante para o futuro”, afirmou Sun Rongmao, cônsul-geral da China em São Paulo. Em 106 anos de história, vários alunos ilustres
Ao longo dos 106 anos de funcionamento, passaram pelas salas de aula do São Bento outras personalidades, como o ex-prefeito da cidade Francisco Prestes Maia, o poeta e tradutor Haroldo de Campos, o escritor modernista Oswald de Andrade, o historiador Sérgio Buarque de Holanda (pai do cantor, escritor e compositor Chico Buarque), o ator Raul Cortez e o médico Antonio Prudente Meireles de Morais, que era neto do ex-governador de São Paulo e ex-presidente Prudente José de Morais e Barros, o primeiro civil a assumir o cargo. |