José Ribamar Bessa Freire
24/04/2011 – Diário do Amazonas
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– Atira! Atira! – lhe dizia o índio Parakanã, apontando a caça. O antropólogo Carlos Fausto, com a arma na mão, olhava na direção indicada e não via bulhufas. Só árvores.
– Ali, ali, naquele galho – suplicava em voz baixa o índio, sinalizando o alvo com o dedo.
– Onde? Onde? – perguntava o antropólogo, atônito. Via apenas uma mancha verde formada por um emaranhado de troncos, folhas, cipós, raízes, musgos, liquens, sombras, tudo da mesma cor, mas nem sinal do animal. O bicho, que para ele continuava invisível, aproveitou a hesitação e se escafedeu, sem nem ao menos declinar sua identidade ao ofuscado caçador.
Foi ali, naquele momento, que Carlos Fausto, sem disparar um tiro, acertou o que não viu, ao suspeitar que seus olhos estivessem incapacitados de ver, dentro da floresta, aquilo que os índios viam. Estávamos no final da década de 1980, ele começava seu mestrado em Antropologia Social com os índios Parakanã, orientado por Eduardo Viveiros de Castro e não era, ainda, capaz de ler a floresta.
Essa história, com riquezas de detalhes, foi contada pelo próprio Carlos Fausto, pesquisador do Programa de Pós-Graduação de Antropologia Social do Museu Nacional. Ele lembrou o fato estimulado pela tese de Viviam Secin ‘Ortóptica, Oralidade e Letramento: a visão binocular dos indígenas Guarani Mbya da Aldeia Sapukai (RJ)’, orientada pelo linguista Luiz Antonio Gomes Senna, responsável por estudos sobre a gramática e o letramento numa perspectiva interdisciplinar e ecológica no Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ.