Para quem quer saber mais sobre este contexto interessantíssimo, transcrevo notícia publicada pela UNILA – Universidade da Integração Latino-Americana, nossa universidade bilíngue.
Escolas interculturais bilíngues
Projeto trabalha com intercâmbio de professores em cidades fronteiriças
Em regiões de fronteira do Brasil com países que compõem o Mercosul, iniciativas de bilinguismo em escolas públicas têm mudado a rotina das aulas de alunos do ensino fundamental. O projeto Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira, criado em 2005, tem sua semente em Foz do Iguaçu e Puerto Iguazu por meio de duas instituições de ensino – a escola municipal Adele Zanotto Scalco e a escola argentina Bilíngue nº 2.
Este ano, elas deram continuidade ao projeto – iniciado em 2007 – com apoio da UNILA. Funciona da seguinte forma: professores da Argentina vão à escola brasileira para dar aula em espanhol e os docentes brasileiros fazem o sentido inverso, com aulas na língua portuguesa. É o chamado “cruce”, trabalhado na perspectiva de escolas- espelho.
As universidades federais brasileiras situadas em área fronteiriça entraram nesta iniciativa para oferecer suporte. “A UNILA, dentro de um projeto de extensão, atua prestando assessoria pedagógica para trabalhar a questão do bilinguismo e ajuda a criar uma discussão com os professores, para que possa nortear o trabalho deles”, diz o coordenador do projeto pela UNILA, o professor de Letras, Artes e Mediação Cultural, Mario Ramão Villalva Filho.
“É importante essa parceria, ter a Universidade como referência próxima para discutir o planejamento em conjunto”, diz a diretora da escola municipal Adele Zanotto Scalco, Cerilândia Batista. Ainda como parte do Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira, mesmo não sendo o objetivo central, professores da UNILA trabalham na capacitação de formadores com aulas de português e cultura brasileira para docentes argentinos.
Integração Brasil-Argentina
“O objetivo mais importante do projeto é a integração dos dois países. Um meio para chegar a isso é pela língua. Nas aulas, conhecemos o outro e o outro aprende sobre nós. Outra ideia dessa iniciativa é que o professor ajude a despertar a curiosidade do aluno, para que ele possa escolher o que é interessante aprender”, explica o professor argentino Andres Villalba, que atua na Escola Bilíngue nº 2, no ensino fundamental, e também leciona aulas na escola brasileira Adele Zanotto Scalco.
O conteúdo para os estudantes é trabalhado principalmente por meio da oralidade e de forma continuada entre professores de nacionalidade distintas. “As crianças compreendem um assunto numa perspectiva de culturas diferentes, acabam ampliando a visão e ficam interessados em pesquisar mais. Neste contexto, podemos trabalhar também valores como o respeito”, relata o professor brasileiro da escola Adele Zanotto, Paulo Machado, que atua no projeto desde 2007. Além disso, as aulas acontecem de modo que um mesmo assunto possa ser discutido dentro de diferentes disciplinas.
Português em Puerto Iguazu
Na sala de aula, os educadores relatam diferença de comportamento dos estudantes. “Os alunos da argentinos são mais tranquilos, há mais respeito com os professores. Os brasileiros são muito inquietos”, conta a professora argentina Mirian Portolan.
Uma das explicações, para eles, está no fato de que as crianças argentinas de Puerto Iguazu já estarem mais acostumadas com o português, uma vez que grande parte dos canais abertos de TV na cidade é brasileira. Portanto, alunos argentinos em Puerto têm o contato direto com a língua portuguesa e, além disso, muitos deles são descendentes de brasileiros.
Um projeto sem fronteiras
Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira foi criado a partir da necessidade de estreitar laços de interculturalidade. Inicialmente atuava somente na região de fronteira do Brasil com Argentina. Em 2009, foi definido que escolas e os Ministérios da Educação dos países integrantes do Mercosul Educacional teriam a oportunidade de participar da inciciativa. Escolas públicas de quatro municípios dos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Roraima, que ficam na divisa com cidades do Uruguai, Paraguai e da Venezuela passaram a ingressar no projeto.